terça-feira, 8 de abril de 2014

Zumbi é um dos entrevistados de Spike Lee para documentário sobre o Brasil

Por Douglas Deiró 
(Publicado, originalmente, na edição 369 do Jornal da Cidade de 21/03/14)

Você conhece o Sebastião Ribeiro, o Zumbi? Este maranhense de Caxias, de 45 anos, mora em Cubatão há 30 e é Diretor de Eventos da Associação Cubatão de Bem com o Mangue, entidade que já foi presidente.
Nascida da necessidade de mudar o sistema comunitário, existe, oficialmente, desde 2005. Quando presidente da Associação da Ilha Bela (na época, não se chamava “De Bem com o Mangue”) percebeu que, por estarem em área de preservação ambiental, precisavam criar um instrumento que cuidasse do meio ambiente e, ao mesmo tempo, que o povo tirasse benefícios... é a questão da sustentabilidade quando nem se falava sobre ela.

Spike Lee ao lado de Zumbi no dia da entrevista, realizada no último dia 04/03, em São Paulo. (Crédito: Acervo Pessoal)

Trabalhos de alfabetização, inglês, pintura e atividades de lazer são desenvolvidos pela entidade. Outro projeto emblemático é o Mangue, moeda local da Vila Esperança onde troca-se o lixo recolhido dos manguezais por cédulas que podem ser usadas na compra de produtos diversos em pontos credenciados. “O que me incomodava é que dependíamos dos outros para tudo, principalmente, do Poder Público. Este projeto não depende de um único apoiador, mas sim, das próprias pessoas da comunidade. Pegamos algo que não falta. Para se ter uma idéia, são recolhidos cerca de 3 toneladas de lixo por mês”, explicou.
Todos estes trabalhos, o deixaram conhecido internacionalmente. O diretor de cinema norte-americano Spike Lee, em seu documentário “Go Brazil! Go!” - (“Vai, Brasil! Vai!”), que abordará nossa atual situação econômica e a realização da Copa do Mundo - o terá como um dos convidados, ao lado do jogador Neymar, a presidente Dilma Rousseff, os ex- presidentes Lula e Fernando Henrique, entre outros. Perguntado como Lee soube à seu respeito, respondeu que foi por meio de pesquisa pois estava à procura de pessoas que atuam em movimentos comunitários. A produção começou em 2012 e entrevistou gente de seguimentos variados (políticos, esportistas, etc) para traçar um panorama do país. A parte de Zumbi foi realizada no último dia 04/03 e, o documentário, tem previsão de estréia antes da Copa do Mundo, porém, não há data ou locais de exibição definidos.
Zumbi comentou ainda que o diretor mostrou interesse em saber como funcionava o Mangue (a moeda local) e a questão do saneamento básico em comunidades como a Vila Esperança. Também conversaram sobre a potencialidade de Cubatão e seus contrastes: “Até mesmo nós, que moramos aqui, não conseguimos entender como essas coisas acontecem ao certo. Então, imagino que o Spike Lee tenha se surpreendido também. Há cidades que não tem o mesmo poder econômico mas conseguem oferecer uma qualidade de vida melhor. Tenho uma tese para isto... quando se tem muito dinheiro, você atrai muitos interesses. Todas essas que tem potencial rico, se o povo não for vigilante, não fiscalizar os gastos públicos, acaba virando contra a própria população. Acredito que seja o problema de Cubatão e, quem sabe, o documentário não chame a atenção para isto”.
Palestras - Outra de suas atividades, é a de palestrante. Há dez anos, realiza em média três palestras por mês à clientes como a Duratex, Magazine Luíza, Johnson & Johnson, Petrobras, Grupo Vale de Mineração e Rede Globo. No princípio, falava sobre trabalho comunitário, enquanto hoje, aborda mais a questão da auto-estima.
Zumbi disse ainda que os executivos sabem que o mercado é muito mais concorrido que no passado e, por conta disto, precisam “sair da caixa”, desempenhar além do esperado, ser pró-ativo. Além disto, querem criar um ambiente familiar dentro da empresa: “Acredito que este seja o motivo para que me chamem. Elas (as empresas) têm valorizado as coisas simples, estão percebendo que não adianta avançar em tecnologia, ter altos lucros, produtividade e deixar para trás o fator humano. Talvez eles gostem de me ouvir, pois vivo à margem disto tudo. Moro em uma comunidade carente mas me sinto rico, sou feliz por ter o necessário para viver”, concluiu.



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